Uma diplomacia inteligente e eficaz, defendendo a soberania sem bravatas ou confrontos irracionais

O Brasil tem experiência diplomática madura e negociadores treinados para encontrar seu próprio caminho: opções de nossa tradição de bom relacionamento podem ser acionadas com sucesso para afastar progressivamente vantagens relativas da grande potência, sem hostilizá-la. Projetos nesse sentido já se encontram em andamento, como o acordo de livre comércio com a União Europeia ou os diversos acordos de cooperação assinados em diversas áreas com a China, na recente visita de Xi Ji Ping.

Buscar parceiros alternativos é seguramente uma forma de evitar uma rombuda “trombada” com Trump e quase inevitavelmente com a própria potência (EUA), com a qual devemos manter uma relação estável e continuada.

São 200 anos de convivência tranquila – ainda que com interesses por vezes conflitantes, mas negociados – com os Estados Unidos, segundo mercado de trocas para o Brasil (China, EUA), sem ignorar os grandes números do investimento americano no Brasil nem a densidade da integração industrial, envolvendo tecnologias por vezes sensíveis.

Sem abdicar de nossa soberania, absolutamente intocável, não devemos tampouco adotar atitudes de resistência e abrir diatribes na expectativa de repercussões de discutível efeito eleitoral interno.

A inteligência também estará em abrir-se para outros polos de cooperação e não no confronto insustentável com os EUA de Trump.

A soberania brasileira está salvaguardada. A manifestação do próprio presidente Lula ressalta esse ponto essencial.  Que prevaleça doravante apenas a questão comercial, econômico-tarifária, que pode oportunamente vir a interessar tratar tecnicamente, sem alarido, entre órgãos competentes dos dois países e acionar organismos internacionais, caso seja conveniente.

Diante de uma crise sistêmica como a atual, em outro plano de efeito prático e imediato, entretanto, a ação diplomática nos Estados Unidos deve agudizar-se e buscar abrangência, envolvendo diretamente todos os interessados brasileiros: estados federados, municípios onde haja alguma atividade ou presença americano-brasileiras, universidades, centros de pesquisa, empresas de qualquer porte significativo, envolvidas em cooperação ativa, associações empresariais, grupos não governamentais, etc.

Assim reforçado pela presença organizada das partes nacionais, o trabalho diplomático neste momento pode ser supremamente eficiente, coordenado e conduzido, como cabe, pela Embaixada em Washington, especialmente capacitada, que tem a segurança de dados e informações concretos dos interesses brasileiros nos Estados Unidos, para agir localmente, com o apoio direto sistemático das partes presentes.

O objetivo é fazer sentir a presença brasileira de maneira mais direta, com o apoio das entidades representadas, para mobilizar opiniões favoráveis à cooperação com o Brasil. Trata-se de tarefa a ser realizada diretamente diante de entidades americanas, sejam elas empresas, organizações não governamentais, governos em todos os níveis, representantes de casas legislativas, partidos e organizações de atividade política interna, etc.

Esse é o papel bilateral definido historicamente para o Ministério das Relações Exteriores em sua atividade internacional que se completa com a atuação em organismos internacionais e o assessoramento do governo na análise das tendências e realidades na relação entre Estados, para a tomada de decisões estratégicas na condução da política externa.

***
Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone
Leia também “A soberania digital nas compras públicas: uma urgência jurídica e política no Brasil”, de Mariana Lessa.