Vamos aceitar o sangramento de “Biden da Silva”?

Alguns podem achar que a economia “tem melhorado”. Mas o quadro político acho que reforça meus temores, como escrevi um ano atrás aqui mesmo.

Dos estimados 3,5% do crescimento do PIB brasileiro em 2024, pode-se afirmar – a partir das próprias estimativas do IBGE – que uns 2,5% vêm de efeitos diretos e indiretos do dinamismo do Agro! (“Linkages” de investimentos à la Hirshman, mais multiplicadores do “superávit comercial”, à la Kalecki, com forte presença do Agro).

Diga-se que o Agro brasileiro tem prosperado com base sólida na capacidade estratégica de pesquisa da estatal Embrapa, conjugada, desde os tempos remotos do Banco do Brasil, aos recursos públicos através agora dos sucessivos Planos Safra. No atual Plano (julho 2024/junho 2025) estão sendo aplicados recursos públicos de R$ 400,59 bilhões em crédito para a agricultura empresarial, sendo R$293,29 bilhões  para custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões para investimentos, a juros que variam de 7% a 12% aa, a depender dos diversos programas. Bem a propósito, o ministro Fernando Haddad vem sustar as operações a tais juros flagrantemente subsidiados, aguardando manifestação do TCU e aprovação do Orçamento da União pelo Congresso Nacional.

Não resisto a provocar. Por ironia do destino, aquele dinamismo induzido principalmente “hacia fuera”, pelas exportações, quem sabe nos ajudaria agora a financiar um desenvolvimento “hacia dentro”, diante de possível cenário internacional restritivo, a exemplo das lições do século passado?… E claro, segundo os próprios interesses econômicos e geopolíticos do grande capital internacional.

Mas prossigamos.

Sobre aquele crescimento pífio de 3,5% aa, que não resolve nossos problemas estruturais da pobreza e desigualdades, nem mesmo os desenvolvimentistas (sem adjetivos) dão uma “dura” no “Biden (ops!) Lula da Silva”. Por acaso estariam aguardando serem demandados por alguma nova composição de forças para 2026?

Belluzzo sabe tudo, mas “pega leve”, talvez pela amizade pessoal com Lula.

O problema está mesmo na baixíssima Taxa de Investimento da economia (relação Investimento/PIB), um dos determinantes essenciais da taxa de crescimento do PIB.

Talvez esteja hoje pouco acima de 15%, enquanto exercícios macroeconômicos relativamente simples apontariam para a necessidade de uns 25%, de modo à economia crescer sustentadamente em torno de 6% ao ano. Para tal, falta o Investimento Público como gasto autônomo, como instrumento, inclusive indutor do investimento privado. Disso já tratei inclusive no artigo anterior, “É a economia idiota!”.

Os neoliberais não veem problema nisso. Para eles, o crescimento da economia “é o que der…”, e “quando der…”.

“Claro” que o investimento público “não pode crescer”, garroteado que está pelo “Calabouço” (ops!) Arcabouço fiscal”.

Quem esculacha mesmo (no caso do BACEN) é o Lara Resende, insuspeito liberal.

Mas são muitas as vozes críticas independentes de partidos. No PT, portanto governo, sobre a hegemonia do capital financeiro e exortando à ação política, José Genoino já alertou: “(…) tem que haver luta…”.

Digo. Enquanto isso, e até 2026, as “mídias” farão “Biden da Silva” sangrar…

***
Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli
Leia também “2025, economia e política“, de Adhemar Mineiro.