Os dados econômicos que vêm sendo publicados estão apresentando a dimensão do problema brasileiro. A taxa de desemprego para o primeiro trimestre do ano é de 12,2% (PNAD Contínua) e o IBRE/FGV estima que aumente para 18% no ano. O Banco Mundial prevê uma recessão de 8%, mas que pode ser pior. A produção industrial caiu mais de 9% de fevereiro para março. O IPCA, por sua vez, registrou -0,38%, segundo mês seguido de deflação. No acumulado em 12 meses, a inflação ficou em 1,88%, abaixo da meta de 4% e até mesmo do piso da meta (2,5%).
A expectativa para 2020, antes da pandemia do novo coronavírus, era de mais um ano medíocre, como foram os anos desde 2017, embora os condutores da política econômica continuassem anunciando uma decolagem fulgurante. O “mercado”, principalmente os operadores financeiros, ao contrário do governo e mesmo antes da crise na saúde, já vinha reduzindo suas projeções de crescimento. No final de 2019, esperavam um crescimento entre 2,5% e 3% ao ano, projeção que se reduziu para 2% em fevereiro, depois para 1%. Os analistas viam indicadores negativos para a retomada econômica, entre eles, o recuo no comércio exterior, a queda no investimento (especialmente no investimento externo) e alguma fuga de capitais, que já pressionava o real desde fins do ano passado.
Ou seja, sem consumo – afinal, com emprego e renda em queda, e mecanismos de crédito que não funcionam para os consumidores finais, já endividados, usando o crédito mais barato em função da redução das taxas de juros para substituir dívidas mais caras por mais baratas, não há o que esperar do consumo das famílias; com o investimento recuando em função das incertezas internas e do quadro internacional pouco estimulante para a busca de oportunidades nos agora arriscados mercados emergentes (e a aversão ao risco predominando); e a diminuição do comércio internacional (que virou queda abrupta depois da corona-crise e dos entreveros no mercado de petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, qdespencando não só os preços do petróleo, mas o de uma série de commodities), restava o uso do gasto público como instrumento para dinamizar a economia. Entretanto, como nos anos anteriores, de 2015 a 2019, ele não foi usado.
Com a pandemia, a rota para o fundo do poço ficou menor. O consumo despencou, os já baixos investimentos cessaram, o comércio internacional recuou de forma ainda mais acelerada e não mostra sinais de quando irá reagir. O quadro, que antes era predominantemente brasileiro, ganhou o mundo. A diferença é que a grande maioria dos países foi tomada por um ardor keynesiano e assumiram amplos programas de gastos públicos para reativar suas combalidas economias, seja porque se tornaram sinceros keynesianos ou por adotarem um keynesianismo de ocasião, pragmático ou oportunista – observem que não vai aqui nenhum juízo de valor sobre o termo oportunista, no futebol um atacante “oportunista” é um jogador visto como positivo e que aproveita as boas oportunidades.
No Brasil, até agora, as autoridades econômicas, os tomadores de decisão, seja no Ministério da Economia, no Banco Central, no setor financeiro público estatal ou nas demais empresas públicas, continuam apenas a reafirmar a fé liberal e apostar num “mercado” que antes da corona-crise já não era capaz de proporcionar dinamismo à nossa economia, e com a corona-crise deve operar ainda mais travado. Eles não estão sós, vêm secundados pelo samba de uma nota só dos fiscalistas, que seguem falando em teto de gastos, Lei de Responsabilidade Fiscal e outras barbaridades da insanidade fiscal que estruturamos no país.
Por aqui, o fundo do poço parece ser o rumo escolhido, e deve ficar ainda mais fundo. E, a seguir nessa batida, vamos demorar a sair de lá.