O assédio à deputada estadual Isa Penna (PSol-SP) nos faz rememorar os casos notórios das ofensas e ameaças misóginas de Jair Bolsonaro à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), os telefonemas e bilhetes com ameaça de morte à deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ) e da prefeita de Mundo Novo-MT, Dorcelina Oliveira Folador (PT-MT).
O que, a seu momento, poderia parecer caso fortuito, aponta para uma regularidade de violência sexual, física e psicológica, constrangimento, ofensa, ameaça, xingamento, agressão física, assassinato de mulheres em funções políticas. Nas formas mais “brandas”, quase todas as políticas já foram acossadas, interrompidas, silenciadas, ignoradas, barradas, discriminadas, difamadas, caluniadas em tentativas de impedimento do exercício de suas funções.
Esse comportamento, tão generalizado, recebeu um nome: violência política de gênero, criminalizada por iniciativa de organizações feministas e da Associação das Prefeitas e Vereadoras da Bolívia. Lá, desde 2012 está em vigor a lei “Contra o Acosso e a Violência Política Contra as Mulheres”, aprovada dois meses após o assassinato da vereadora ayamara Juana Quispe, primeira mulher eleita para o Consejo Municipal (Câmara de Vereadores) de Ancoraimes, a mando do prefeito e do presidente do Legislativo.
O documentário Eleitas – violência política de gênero trata disso através de entrevistas com prefeitas, deputadas e vereadoras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia e México. Um levantamento da União Parlamentar Internacional indicou que 82% das parlamentares foram vítimas de comentários sexistas, intimidações, ameaças, vazamento de dados pessoais. E 44% das mulheres na política chegaram a receber ameaças de morte, estupro, espancamento ou sequestro.
A cientista social Maria Eduarda Carneiro da Silva interpretou a agressão do deputado Fernando Cury como tentativa de intimidação psíquica à deputada Isa Penna (no artigo “Não somos nós que precisamos ser contidas”, aqui no Terapia Política). “Abuso, intimidação e humilhação sexual são uma conhecida tática de guerra”. Foi como se ele dissesse que “se as mulheres querem ocupar aquele espaço de poder masculino elas terão que se sujeitar a ser objetos. Afinal de contas, aquele lugar não é delas”.
No documentário Eleitas, a primeira prefeita de Bogotá, Cláudia Lopes, observa que “se há uma atividade que é essencialmente machista, é a política. A política tem sido reino dos homens”. Para eleger-se prefeita de Passira-PE, Renya Carla (PP) percorreu “caminhos bem machistas, onde a gente encontra aqueles homens que não querem você na disputa”. “A nossa presença física causa um impacto muito grande”, diz a deputada Mônica Francisco (PSol-RJ).
A direção do vídeo é de Isadora Brant e o argumento é da cientista social Beatriz Pedreira. (17 minutos).
NR: Terapia Política publicou recentemente o artigo “As mulheres e seus movimentos ….” : https://terapiapolitica.com.br/2021/01/07/as-mulheres-e-os-seus-movimentos-o-caso-de-misoginia-na-alesp/