Sonho em escrever uma carta sobre o desejo de toda sexta-feira vir aqui conversar. Escrevo a partir de perguntas, ideias, dúvidas, e as respostas chegam, mesmo dos que não clicam, comentam ou compartilham. Outro dia, encontrei na rua uma amiga que não via há tempos passeando com um belo cachorrão, e ela disse que me lê. Nunca clicou, mas teve a gentileza de comentar que segue o Face e até comprara o livro da imaginação.

Para hoje já tinha um ensaio pronto sobre as diferentes capacidades como as de amar, brincar, capacidade negativa, de pensar, capacidade de desejar. Um dia, quem sabe, retomo, mas hoje li uma frase que se impôs e quero compartir: “Sou um construtor de sonhos…”. Já havia lido dezenas de páginas do livro, e foi essa a frase que me espantou. Foi dita numa hora de pesadelos, de máxima tristeza, pois quem disse isso iria ser preso em algumas horas mais. Entretanto, foi capaz de falar para uma multidão que construía sonhos – na página 64 do último livro de Fernando Morais, que é uma biografia de Lula.

No mesmo dia, vi um programa no Canal Curta sobre a vida e a obra do arquiteto Ruy Ohtake, que morreu há menos de um mês. Foi emocionante ver esse homem falar sobre como as pinturas de sua mãe influenciaram no seu trabalho. Refletiu ainda sobre as incertezas das curvas diante das certezas das retas. Foi um dia com arquitetos sociais e de espaços. Quantas brasileiras e quantos brasileiros admiráveis existem, e como nosso povo foi eleger o pior presidente de nossa história? Adoecemos, como adoeceram os alemães na década de 30 do século passado, ou o Chile de Pinochet, que hoje renasce.

Carta sonho, pois tenho tido sonhos melhores ultimamente, e intuo que 2022 indica um ano par, um ano de pares, parcerias. Escrever uma carta é ter em mente a quem se escreve, como ocorria no passado, em que escrevíamos cartas, e corríamos ao correio. Cartas de amor, cartas aos familiares, aos amigos. Eu escrevia cartas intermináveis à namorada com quem me casei, eram de 10, 15 páginas. A carta é uma ponte, assim como as redes sociais em que estamos conectados.

Carta sonho porque a partir da frase “Sou um construtor de sonhos”, da obra de Ohtake, e diante do ano de 2022, precisei contar logo numa carta. Sonho em marcar um encontro no palco de madeira do Jardim Botânico num sábado às nove horas para conversar. Um dia, quem sabe…, quando passar a pandemia, pode ser que ocorra esse encontro para uma conversa sobre sonhos, metamorfoses, conflitos, e encontros pulsantes.

Uma carta sempre tem um fim, e desejo na despedida agradecer por este espaço de conversas, porque ele foi essencial na construção do livro “Imaginar o amanhã”. Livro que foi construído pela parceria com o Edson, da sua filha Alice na capa, e as presenças ativas da Elida, Sonia e o neto José sentado ao lado no lançamento com traje completo. Tudo isso com a presença ativa do Flavio da editora Diadorim e centenas de amigas e amigos. Depois viriam as lives com colegas e amigos psi escrevendo e falando palavras que até hoje ressoam. Muito obrigado, pois conviver com tanto público em presença ou virtualmente foi uma delícia.

Felizes festas! Dou uma paradinha aqui e volto na primeira sexta-feira de fevereiro, depois da festa de Iemanjá.

Originalmente publicado no Facebook do autor.

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Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone 

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