As pesquisas eleitorais que saíram na semana de 13 a 17 de dezembro, a uma semana do Natal, mais do que sinalizar o chamado “bom velhinho” – roupa vermelha e barba e guiado pela estrela –, mostram melhor os limites que estão desenhados com os parâmetros atuais na disputa eleitoral do ano que vem.

De um lado, as duas pesquisas divulgadas (IPEC, herdeiro do antigo IBOPE, e Datafolha) mostram uma situação confortável para o ex-presidente Lula: 49% dos votos totais na do IPEC, 47% dos votos totais na do Datafolha; em qualquer dos casos mais do que a soma dos demais candidatos em ambos os institutos, isso é, mais de 50% dos votos válidos, significando que, confirmado esse quadro, ganha no primeiro turno. A do IPESPE, divulgada no dia 20/12, mostra resultado dentro da mesma margem: Lula 44% contra 24% de Bolsonaro, Lula também com percentual maior do que a soma dos demais candidatos.

Dez meses antes das eleições, e em processo de negociação de alianças eleitorais, a candidatura de Lula se mostra em uma posição bem confortável. Mais ainda se tomarmos em consideração o ambiente eleitoral da América Latina, onde se sucedem vitórias eleitorais expressivas dos setores progressistas (Peru, Honduras e, bem recentemente, Chile). O retorno a posições liberais parece ter agravado a percepção da miséria como o principal problema da região, tema onde os progressistas tradicionalmente nadam de braçada.

Mas, mais do que isso, vale tecer dois comentários importantes sobre a candidatura do segundo colocado nas pesquisas, o atual presidente Bolsonaro. Com 23% das intenções de voto na pesquisa do IPEC, ou 21% na do Datafolha, ou 24% na do IPESPE, Bolsonaro parece se entrincheirar em seu eleitorado mais “duro”, mais fiel, que vem se reduzindo, mas parece ter um piso que não deve ficar muito abaixo dos 20%. Ou seja, como estratégia, prefere aparentemente (ou não prefere, mas vê como alternativa mais viável) perder rapidamente a maioria, mas solidificar os votos de seus eleitores mais fiéis, mais aguerridos, mesmo com um discurso longe de ampliar seus votos.

Mas, com esse percentual, e estando Lula próximo à faixa de metade das intenções totais de votos, Bolsonaro aparentemente inviabiliza o espaço de crescimento de qualquer alternativa que possa constituir uma chamada “terceira via”. Ou seja, abre o espaço para Lula folgar na liderança, mas “fecha a porta” para eventuais alternativas que tentam se constituir, e que acabam ficando hoje todas abaixo de 10% das intenções de votos.

A alternativa parece arriscada, pois até aqui ela não apenas parece levar à vitória de Lula no primeiro turno, como deve significar que parte significativa desses votos dos demais candidatos se afasta cada vez mais do candidato Bolsonaro. Se não pela dinâmica da campanha, pelos próprios índices de rejeição do candidato, que já não ia bem, e desta forma vê seus índices de rejeição em torno de 60% do eleitorado.

O segundo é que estamos em um momento de costuras de apoios eleitorais. Com essa estratégia, e aumentando sua rejeição, o candidato (e presidente) Bolsonaro pode sinalizar às forças políticas que hoje se aglutinam em torno dele que não tem viabilidade para vencer a eleição, embora mantenha um eleitorado significativo.

Essa sinalização, no momento em que várias forças políticas estão fazendo suas apostas, pode indicar que algumas delas, hoje próximas ou apoiando o candidato Bolsonaro, poderão se afastar da candidatura. Nesse ponto em especial, deve ser tomada em conta a diversidade regional do Brasil, que pode fazer com que alguns partidos em determinada região prefiram caminhar em um sentido, mas em outra façam suas apostas em sentido exatamente oposto.

Ao contrário, a candidatura Lula se move em uma posição confortável, pois de um lado a própria rejeição a Bolsonaro empurra os setores à sua esquerda para uma posição mais pragmática, não ameaçando disputar o espaço aberto por Lula, com o seu movimento ao centro. Por outro lado, esse movimento, se não serve propriamente para ganhar as eleições (já que a polarização sempre foi uma característica dos processos eleitorais presidenciais brasileiros desde a redemocratização, a partir de 1989), já aponta para alguma busca da governabilidade futura.

Em todo caso, estamos ainda longe das eleições, que ocorrem em cerca de 10 meses, com muita água ainda para rolar até lá. E o processo político brasileiro não é propriamente marcado por ser um jogo dentro de regras claras e conhecidas, desde a ruptura institucional de 2016. Assim, alguma ou muita coisa ainda pode mudar até lá, alterando um enredo que hoje pode parecer bastante bem desenhado. A ver o que o futuro nos reserva.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone

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