Em março de 2021, foi lançado livro “A Economia Brasileira de Getúlio a Dilma – novas interpretações”, organizado pelo meu colega e amigo, professor Victor Leonardo de Araújo, e por mim (Fernando Mattos). A obra está organizada em 18 capítulos, escritos por 16 autoras e autores. Cada capítulo corresponde a um mandato presidencial, iniciando-se pelo primeiro mandato de Getúlio Vargas e terminando no de Dilma Rousseff.

Desde o início do projeto, tivemos a preocupação de produzir um livro original, não somente por termos convidado pesquisadoras(es) filiadas(os) a diferentes linhas do pensamento econômico não-liberal, destacando-se a vertente keynesiana, a sraffiana, a regulacionista, a furtadiano e a kaleckiana.

Os capítulos do livro caracterizam-se não somente pelos perfis de oposição ao conservadorismo ou ao dogmatismo econômico que dominam as interpretações presentes em outras publicações sobre o tema, como também brindam as(os) leitoras(es) com pesquisas e evidências analíticas inéditas e contribuições inovadoras (mesmo dentro dos marcos da heterodoxia econômica), muitas das quais elaboradas justamente para serem apresentadas na referida obra.

Por estas e outras, fomos brindados com os elogios do professor Titular da Faculdade de Economia da UFRGS, colaborador do Terapia Política, Pedro Cezar Dutra Fonseca, o maior conhecedor do projeto político e do modelo econômico da era Vargas: “Caso se pretendesse caracterizar em poucas palavras esta obra, elas seriam: um livro de personalidade”.

A ideia do projeto que permitiu que esse livro viesse a lume decorreu da nossa percepção de que os professores da disciplina de Economia Brasileira Contemporânea e de Formação Econômica do Brasil, nas dezenas de Faculdades de Economia do país, sentiam há tempos necessidade de adotar, nas bibliografias obrigatórias dessas disciplinas, uma obra que pudesse reunir interpretações mais robustas e inovadoras sobre a história econômica brasileira. Uma publicação que fugisse ao senso comum e que não se limitasse a replicar análises superficiais e tendenciosas sobre a historiografia econômica brasileira. Conforme mencionamos acima, a quase totalidade dos livros que se dedicam a descrever a História Econômica do Brasil baseia-se em formulações ortodoxas e/ou liberais sobre as políticas econômicas adotadas nos diversos momentos históricos do nosso país.

Portanto, quando concebemos este projeto, sabíamos que deveríamos procurar fugir das facilidades de nos restringirmos meramente a descrever as medidas de política econômica, outro vício nos manuais sobre o tema. Nosso esforço seria dedicado a analisar a “economia política” da política econômica, ou seja, os elementos políticos, geopolíticos, históricos, sociais e de outras dimensões que afetam e definem as decisões de política econômica e, principalmente, suas consequências e seus desdobramentos sobre o processo de desenvolvimento econômico e social. Em poucas palavras: análises estruturalistas (como nos ensinou o Mestre Celso Furtado) do nosso desenvolvimento econômico e, em particular, de nosso exitoso (isso mesmo!) processo de industrialização, sem deixar tampouco de pontuar seus limites, falhas e deficiências. O mesmo esforço vale para interpretar o processo de desindustrialização em que estamos inseridos desde pelo menos o início dos anos 90 – com os mais variados desdobramentos nefastos sobre nossa sociedade, conforme os autores dos capítulos sobre os tempos mais recentes se dedicam também a avaliar.

Em todos os capítulos está presente a compreensão de que as profundas transformações de ordem econômica, social e política ocorridas durante o século XX decorreram de modificações ocorridas na estrutura produtiva por meio da industrialização, em curso desde o final do século XIX. Inicialmente ocorrida de forma “espontânea”, pouco a pouco a industrialização se tornou objeto de ação deliberada por parte do Estado brasileiro, que passou a desenhar as instituições e formatar suas políticas com o intuito de “modernizar” o País tendo o desenvolvimento econômico como objetivo primordial.

No plano político, as disputas e tensionamentos entre as classes e frações de classes ocorridas ao longo deste processo foram moldando as instituições, buscando modernizar o capitalismo brasileiro e as relações de trabalho, tendo em vista viabilizar e facilitar o processo de acumulação de capital. Da mesma maneira, o processo de desindustrialização representou nossa falência política e institucional em manter a trajetória desenvolvimentista que teve no II PND de Geisel seu último sopro.

Uma característica adicional do livro é avaliar o processo de constituição do capitalismo no Brasil tendo como pano de fundo o grau de desenvolvimento das forças capitalistas no cenário internacional, o que é fundamental para analisar os limites e possibilidades das transformações econômicas de um país periférico e de industrialização tardia.

A maneira pela qual o livro foi estruturado também deve atrair o interesse de historiadores, sociólogos, cientistas políticos e antropólogos que se dedicam a refletir sobre o longo e politicamente conturbado (períodos democráticos e ditatoriais se revezando durante os 80 anos cobertos pela obra) processo de industrialização brasileira. O livro poderá ser adotado nos programas de graduação e de pós-graduação destas áreas e outras afins.

Da mesma forma, esperamos atender ao público interessado no tema (incluindo as lideranças políticas do país), objetivando que a obra se torne referência para compreender nosso passado e refletir sobre o nosso futuro.

Conforme pontuou, generosamente, a professora Leda Paulani, da USP, na quarta capa de nosso livro: “Contar a história econômica de um país como o Brasil ao longo de oito décadas não é tarefa menor, sobretudo quando se pretende adicionar interpretações às já existentes. (…) Excelente contribuição para pensar o país, mas não só. É instrumento necessário de sobrevivência em tempos de negacionismo”.

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