2025, economia e política

O governo Lula entrou em seu terceiro ano. Na recente tradição democrática brasileira, especialmente depois que o presidente Fernando Henrique Cardoso, na época em seu primeiro mandato, propôs e jogou todas as suas fichas na alteração da Constituição de 1988 para aprovar a reeleição, o terceiro ano de um presidente que busca a reeleição é, de fato, seu último ano de governo, posto que o ano seguinte é dedicado à campanha eleitoral pela reeleição. E, desde Fernando Henrique, passando por Lula e Dilma, todos a conseguiram; a única exceção foi exatamente o então presidente Bolsonaro, que tentou a reeleição e perdeu.

Assim, e desde já, a pressão vai ser forte ao longo desse ano, pois os seus indicadores são, possivelmente, os que vão ser discutidos durante o debate eleitoral. Mais do que isso, o desempenho nos três primeiros anos e as chances de vitória serão avaliados por possíveis aliados, para saber se devem buscar se aproximar do presidente incumbente em busca da possível reeleição, ou se devem dele se afastar, buscando constituir uma alternativa.

As forças sociais também começam a se mover, e são identificadas pelas pesquisas. O atual presidente têm entre suas principais bases os mais pobres, as mulheres, os católicos, os negros, o Nordeste. Por outro lado, ainda segundo as pesquisas de 2023, os investidores financeiros, o mundo financeiro, a “Faria Lima” ou a “turma da bufunfa”, dependendo de quem coloca o rótulo, desde as primeiras pesquisas, no primeiro trimestre de governo, quando este ainda estava em seu período de graça (aquele momento em que nada é muito cobrado porque o governo está apenas começando), já opinava contra o governo.

Pois bem, nas medidas de ajuste fiscal tomadas no período recente, o Ministério da Fazenda do atual governo dá pelo menos dois tiros diretos no seu próprio pé, entendido o “pé” como a base política. De um lado, limitou entre os anos de 2025 a 2030 os aumentos do salário mínimo a 2,5% (a regra anterior era a inflação do ano anterior mais o crescimento de dois anos antes, mas agora esse segundo componente está limitado a 2,5%), diminuindo a possibilidade de crescimento de rendimentos de assalariados e aposentados de baixa renda. Além disso, uma série de medidas foram anunciadas, colocando restrições à obtenção e ao reajuste dos benefícios de prestação continuada (BPC) – medidas essas que atingem os mais pobres. Além disso, os cortes de gastos atingem mais pesadamente os gastos sociais, que também revertem mais fortemente para os mais pobres, a base social do governo.

Por outro lado, as medidas de ajuste, dentro da lógica da austeridade fiscal, são medidas defendidas pelos investidores financeiros no sentido de garantir a sua remuneração. Não só isso. O aumento dos juros, que tem sido aplicado pelo Banco Central, amplia a remuneração dos investidores financeiros e limita o crescimento econômico, dificultando a geração de renda e emprego. Ou seja, a política econômica do governo age em conformidade com uma exígua minoria de pessoas, que jogam desde o primeiro momento contra o atual governo, que não querem a sua continuidade, e das quais o atual governo nunca vai ganhar a confiança.

Como ressaltado, essas medidas atingem diretamente a base social do governo, os mais pobres. Ao defendê-las, o governo não se dá nem o benefício de obrigar que o Banco Central ou a maioria parlamentar defensora dos interesses do mundo financeiro tenha o ônus de defender os seus próprios interesses. Ele se exime, desta forma, de fazer a disputa política, onde poderia até perder, mas acumularia força política para o processo eleitoral.

No fundo é isto que está em jogo: 2026. E, neste sentido, o governo parece estar sendo desgastado por sua própria política econômica. Governa, na economia, para seus adversários e confronta sua base política. As sondagens eleitorais sinalizam isso – o desgaste do governo na sua própria base política. Ainda não há um candidato que consiga fazer frente ao atual presidente, mas aparentemente o governo vem se esforçando para que isso aconteça. As sondagens mostram que a oposição a Lula tem se perdido, por enquanto, em seu fracionamento, mas vem impondo desgaste permanente ao governo.

O jogo é pesado, os movimentos devem ser cuidadosos, e vale refletir bem. Mas é fundamental perceber que, no rumo atual, o desgaste pode chegar a um ponto de não-retorno. 2026 está ali na esquina.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli  e Revisão: Celia Bartone
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