A invasão pela polícia federal – que outro termo empregar? – amparada em mandado de busca e apreensão expedido pelo terrivelmente evangélico juiz Marcelo Bretas e candidato à vaga no Supremo Tribunal Federal, após aceitar denúncia do Ministério Público, é fato gravíssimo.

A extensão das denúncias aceitas pelo juiz, apreciador de fuzis metralhadoras, abriu nova temporada do espírito lavajatista, agora a serviço de Bolsonaro.

Vários escritórios de advocacia foram vasculhados, rompendo-se princípios básicos das prerrogativas de exercício da advocacia. Já gozam a condição de réus Ricardo Teixeira e Cristiano Zanin, advogados de Lula; Ana Tereza Basílio, representante legal de Witzel; e Eduardo Martins, filho do atual presidente do Superior Tribunal de Justiça. Alega-se o envolvimento dos escritórios em desvios de pelo menos R$ 150 milhões do Sistema S do Rio de Janeiro (Sesc, Senac e Fecomércio) por meio de contratos duvidosos de prestação de serviços. Pouco importa aos esbirros se há comprovações de serviços efetivamente prestados. O escritório e a residência de Frederick Wassef, ex-advogado de Flávio Bolsonaro e ex-amigo do clã, protetor de Queiroz, também foram vasculhados.

A acusação tem por base a delação premiada de Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio do RJ, que abriu mão de apartamentos e obras de arte em troca, na prática, de prestação de serviços comunitários.

O que temos em curso?

A continuidade da Lava Jato, reciclada para servir aos interesses de Bolsonaro. A denúncia segue roteiro conhecido: quatro meses em 2018 recolhido em alguma enxovia convenceram Orlando, não o Silva, a cantar o adequado, devidamente revelado em momento oportuno: o pronunciamento de Lula. O núcleo duro a ser atingido: os destemidos defensores de Lula, vitoriosos em cinco processos fora de Curitiba. Lula não é acusado de nada na chamada Operação E$quema S, mas basta nominá-lo para relançar nuvens de suspeita.

Consta que nas buscas foram apreendidas as famosas listas da Odebrecht, provas da defesa de Lula. Mas não basta criar clima de suspeitas. A ação é complementada com recados à direita não bolsonarista e a desafetos da Famiglia. Sérgio Cabral, hoje reduzido a um molambo moral poderá renovar delações ao estilo Palocci? O que dirá sua mulher? Haverá respingos em Eduardo Paes, ex-prefeito, candidato da direita não bolsonarista, por ora acusado de corrupção nas eleições de 2012 e indiciado como réu às vésperas das eleições municipais? Ou respingos na Rede Globo no decorrer das investigações?

À Wassef deu-se mais um aviso: siga as regras não escritas da Omertá.

O indiciamento de Eduardo Martins cria enormes constrangimentos ao STJ, pois uma das acusações diz respeito ao seu empenho em auxiliar Orlando Diniz. Na delação não faltaram leviandades contra o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, corajoso defensor de direitos humanos e opositor dos constantes abusos judiciais.

A cidade e o estado do Rio de Janeiro tornaram-se laboratórios de como impor o bolsonarismo, seja na sociedade via milícias controlando bairros e regiões ou na crescente presença na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores. Agora se explicita a tentativa de controle a pontapés do aparato judicial, com uma pequena ajuda de setores do Ministério Público e de um juiz disposto a substituir Sérgio Moro em ações temerárias, que solapam o que resta de Estado Democrático de Direito. Fará todo o necessário para merecer o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Eis a cenoura colocada diante de seu nariz.

Um sinal do que podemos aguardar?