No meio da natureza o homem começou a cultura. No início do Gênesis, havia um paraíso habitado por Adão e Eva no qual tinha uma árvore do conhecimento cujos frutos eram proibidos de comer. Portanto, nem o paraíso era perfeito, pois havia uma proibição, uma tentação que era a árvore do conhecimento. Eva foi o primeiro ser humano cuja curiosidade pelo conhecimento foi um imperativo. Seduzida pela cobra, que o mito define como Lilith, ela tanto comeu como ofereceu o fruto a Adão, e logo se sentiram nus. O conhecimento que os frutos dessa árvore deram foi o do erotismo, pois estando nus sentiram vergonha do sexo, tapando-os com folhas. O casal é expulso do Paraíso e assim começa a história humana em que o erotismo e sofrimento convivem. Escrever sobre o amor é abrir algumas questões, o tema é infinito, incerto, incompleto, mas amor tem poesia e humor.

O ser humano fez da atividade sexual uma atividade erótica; um erotismo que teve um desenvolvimento também ligado à linguagem. O fogo original é o sexo, do qual, após milhões de anos, se levantou a chama vermelha do erotismo, e, após muito mais tempo, pôde sustentar uma chama azul e trêmula que é o amor. Essas imagens do fogo foram escritas pelo poeta Octavio Paz, aos 80 anos, em seu livro: “A dupla chama: Amor e Erotismo”. O erotismo é uma poética corporal, já a poesia é uma erótica verbal. A fonte primordial da origem tanto do erotismo como do amor é o sexo, daí na Psicanálise a importância da sexualidade. A poesia, o erotismo e o amor são essenciais na definição do humano.

Ninguém nasce amando, um bebê é primeiro desejado, cuidado, amparado, pois nasce em estado de desamparo biológico e psicológico. Nenhum animal nasce mais desamparado que o bebê humano, e até o sistema nervoso central não está concluído, daí nem sentar pode, a coluna vertebral está sendo formada. Será depois criança, falará, caminhará, diminuirá com o tempo o desamparo biológico, mas o desamparo psicológico acompanha toda a vida. Aprender cada um a se amparar será essencial no amor, pois há uma tendência a um descansar no outro, um se ampara no outro, gerando dependências sofridas.

O que é mesmo o amor? Amar é um afeto, um sentimento, um movimento, pois algo se move no amor, o amor não é estático, está sempre em movimento, expresso tanto em atos amorosos como em ódio. Amor é ambivalente, daí se pensar como amoródio, sentimentos oscilantes entre excitação e tensões. Os amores são perfeitos nas idealizações, paixões, que em algum momento terminam, passam, podendo permanecer o amor. A complexidade do amor é tanta que sempre sentimos, ao ler e escrever, que mais não sabemos do que sabemos. Importante é aprender a não ambicionar mudar o outro, pois a construção do respeito mútuo é uma transformação do narcisismo ao aceitar e admirar a alteridade. Impor transformações autoritárias ao outro para ser amado, geram brigas e no limite arrisca a separações. A capacidade de dominar perturba a capacidade de amar. Além do que o amor é vivo e pode viver tempos de desânimo, idealização, de excitação e falta de excitação. Os fatores familiares, as identificações, a capacidade de brincar no amor são alguns fatores que facilitam ou dificultam o amor.

A capacidade de amar pode tanto aumentar como diminuir no tempo. Há pessoas que envelhecem amarguradas, e outras que aumentam sua capacidade amorosa. Uma das dificuldades na capacidade de amar está na gratidão, que é reconhecimento do recebido, amor ao outro. Gratidão é uma memória sorridente pelo que se recebeu, e não a amargura pelo que faltou, falhou. Já o orgulhoso não quer dever, daí a ingratidão. Torço para que possamos melhorar a capacidade amorosa com a gente, com os demais e com o nosso país. (Facebook do autor em 06/05/2022)

***
Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli

Clique aqui para ler artigos do autor.