Anne Frank, se estivesse viva, estaria com a humanidade que deseja a paz

Escrevo hoje, dia 12 de junho, dia em que Anne Frank faz 96 anos. E se ponho no presente o seu aniversário é porque ela está mais viva do que se pensa. Anne, em uma carta do seu diário no dia 5 de abril de 1944, aos 14 anos, escreveu: “Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo aquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte!”. Morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, de tifo,  em fevereiro ou março de 1945. Mais de dez anos após sua morte, Conceição Evaristo escreveu: “No diário de menina judia eu lia a minha solidão de menina negra e pobre e o histórico da identidade massacrada dos povos negros”. No seu ensaio emocionante ela escreveu sobre um dos mais famosos diários já escritos quando associou o seu sofrimento ao da menina judia: “Ler o dia a dia de uma menina que corria o risco de morte me convocava ao sofrimento junto com ela”. Associar o sofrimento da menina negra ao da judia me fez pensar logo em que outras repercussões teve o diário através da História.

E aí descobri, para minha surpresa, que Nelson Mandela havia lido o diário de Anne Frank antes de ser preso na África do Sul, e leu pela segunda vez na prisão. Leu num livro que já estava em péssimo estado de conservação e o indicou para os demais prisioneiros que o copiassem, pois se cada um fosse ler o livro ele se desmancharia, pois já havia páginas soltas e todas estavam amareladas, quase se esfarelando. Imaginei, então, uma prisão da África do Sul racista, os presos negros copiando o diário, lendo e sendo ajudados pela coragem da menina adolescente judia. Aliás, é isso mais ou menos que Nelson Mandela, ao sair da prisão e ser eleito como o primeiro presidente negro de seu país, disse um dia em que foi convidado a visitar a Casa de Anne Frank em Amsterdam. A leitura do O Diário de Anne Frank ajudou os prisioneiros negros e milhões de pessoas ao longo que quase oitenta anos.

O ensaio da escritora Conceição Evaristo conclui assim: “A leitura de O Diário de Anne Frank se faz necessária mais e mais nestes tempos em que a brutalidade e a prepotência de pessoas e de grupos imperam, buscando se colocar como donos do mundo”. As palavras de Conceição seguem hoje essenciais, pois é preciso recuperar o humanismo tanto das palavras de Anne Frank como as suas.

A crueldade do mundo cresceu nos últimos anos, seja porque ocorreu a invasão da Ucrânia pela Rússia, bem como o cruel atentado terrorista do Hamas em Israel e a resposta do governo israeli que destruiu quase toda Gaza e matou dezenas de milhares de civis, entre os quais crianças e mulheres. Anne Frank, se estivesse viva, estaria com a humanidade que deseja a paz e apoiaria os dois terços da população de Israel que têm expressado em pesquisas de opinião que deseja a volta dos sequestrados e o fim da guerra já. Sempre fui pacifista, sempre me identifiquei com o movimento Shalom Achshav – Paz Agora de Israel.  Ehud Olmert, ex-Primeiro Ministro de Israel, que sempre foi um moderado, escreveu um artigo em que critica de forma contundente o governo de Israel quanto a Gaza. Publicou num importante jornal israeli- Haaretz- que tem feito oposição ao governo e tem sofrido muito por isso.  Hoje é dia doze de junho, dia que nasceu Anne Frank, dia dos namorados, e logo podemos pensar nas duas palavras marcantes no passado que são Paz e Amor. Precisamos muito de paz e amor, apesar do ódio e da guerra, pois sonhar e trabalhar juntos pelos sonhos é dar sentido à vida.  (Publicado no Facebook do autor)

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Ilustração: Mihai Cauli
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Assista o documentário com a fala de Mandela.