Na carta, a invisibilidade da alma se faz visível. Sempre fui um apaixonado por escrever e ler cartas, e com o tempo comprei livros como “As grandes cartas da História”. Nele li cartas de Alexandre Magno, Leonardo da Vinci, Beethoven, Darwin, Nietzsche, entre tantos autores. Nas cartas se conta a história da humanidade. Nas cartas as almas se unem, se fazem vibrar, geram vastas emoções mesmo que os pensamentos sejam imperfeitos.

Para quem nunca escreveu cartas ou leu, ou para quem leu e escreveu só no milênio passado, aproveitem o livro recém-lançado Da sempre tua das escritoras Claudia Tajes e Diana Corso. Sendo que Diana é também psicanalista, o que se percebe já na sua primeira carta de resposta à sua amiga. Antes de ingressar no livro, em especial as duas primeiras cartas, antecipo que minha vida foi marcada por cartas. Minha avó lia as cartas que apontavam o futuro, que aprendera com as ciganas ucranianas, e parou de jogar cartas, pois às vezes via coisas ruins e não queria dizer. Meu pai acreditava na capacidade dela e aprendeu a jogar cartas através do jogo de paciência. A mim coube seguir com o mundo das cartas, mas escrevendo, lendo, estudando as cartas dos escritores, pensadores, inventores. Nas cartas, a gente se desnuda, o mais íntimo se revela até quando tenta se ocultar. Tudo é mostrado sem disfarces, nada é invertido, nada é torcido.

A primeira carta do livro “Da sempre tua” é da escritora Claudia Tajes, e começa assim: “Querida D.”, e sua primeira frase é: “Talvez você esteja chateada comigo, eu que desapareci sem dar nenhuma explicação e que sequer abri os 50 áudios que você me mandou nos últimos tempos”. A primeira frase, “Talvez você esteja chateada comigo”, leva Diana na sua resposta a abrir um tema essencial no mundo feminino que é a Desvalia Feminina. D. define que essa Desvalia é escrita com letras maiúsculas, pois é uma criatura monstruosa e está sempre à espreita. A escritora psicanalista vai além na carta em que C se critica, com sua prosa poética admirável, e conclui: “Em suma: vai te catar. Não vou servir de alimento pra tua autocomiseração… Porque te amo. Na alegria e na tristeza. Aliás, tu tens o senso de comédia, e o melhor humor nasce na tristeza”.

Todos sabem ou deveriam saber que Claudia Tajes é escritora profissional, tem 12 livros publicados, tem uma página no caderno Donna de Zero Hora e colabora em outras publicações. Já Diana é coautora dos clássicos “Fadas no divã” e autora de “Tomo conta do mundo”, entre outros. No final do livro “Da sempre tua” há um brinde especial de Diana Corso no ensaio “Amintimidades – Do amor entre amigas”.

Portanto, amigas e amigos, corram hoje para ler já no fim de semana esse presente que escritoras amigas nos brindam, e se desnudam para nós. Ao final, uma pergunta para juntos pensarmos: a famosa Desvalia Feminina exercida pelas mulheres, aumentada pelos homens nessa sociedade que segue sendo machista (mas já foi mais), não oculta também outra desvalia? A Desvalia Masculina, na qual machões se fantasiam de fortes, de imbrocháveis, de semideuses, pois o masoquismo é essencial no ser humano. Ah, e agora recordo que o breve ensaio de Freud “O problema econômico do masoquismo” foi escrito em 1924, há exatos 100 anos, e segue vigente. Nele classifica o masoquismo em erógeno, feminino e moral. E aí entra tanto a pulsão de morte como o desejo da servidão voluntária, o medo da liberdade, o desejo de submissão. Bah, amigas C e D, fui longe, creio que me perdi nos comentários sem fim, mas ao final sintetizo: o livro são muitas e muitas cartas que diminuem o sofrimento, que gracejam com o masoquismo, brincam e se divertem. Como leitor das cartas dessa querida dupla de amigas, vai um abração de gratidão por abrirem seus mundos com generosidade para nós.

“Da sempre tua” não é mais um livro, é o livro que estamos todos precisando para aumentar nossa sinceridade e ampliar nossas amizades. Missão cumprida “C” e “D”, e aproveito para enviar um abração à dupla que tanto ensina. Ao terminar a leitura das cartas a gente se sente mais gente, o livro nos humaniza. (Publicado originalmente no Facebook do autor)

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Ilustração: Mihai Cauli 
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