Analistas estimam que a taxa de desemprego no Brasil atingirá a terrível marca de 20%, talvez maior. O percentual é uma combinação entre o progressivo aumento do número de pessoas que passarão a procurar emprego, as restrições na oferta de vagas e o fechamento de empresas e postos de trabalho. Esta é a química econômica para o aumento do desemprego.

Mesmo antes da crise sanitária, o desemprego já vinha atormentando a vida dos trabalhadores brasileiros. A taxa de desemprego, que era de 6,4% no final de 2014, cresceu para 12,7% na média anual de 2017, ou seja, havia cerca de 13 milhões de pessoas sem trabalho.

A Covid-19 tornou o problema ainda mais dramático, com movimentos inéditos na dinâmica das ocupações. Logo no início da pandemia, em março deste ano, 12 milhões de pessoas foram jogadas na inatividade, pessoas que saíram do mercado de trabalho e sequer foram em busca de outros empregos, pois sabiam que eles não existiam mais. Para as pesquisas, este contingente não é considerado desempregado, pois deixou de procurar emprego.

Outros 20 milhões de homens e mulheres foram afastados do trabalho pelo isolamento social e pela redução das atividades produtivas, muitos dos quais passaram a integrar os programas de suspensão do contrato de trabalho ou de redução da jornada de trabalho. Daqueles que permaneceram em atividade, cerca de 8 milhões passaram a trabalhar em casa. Este é um fenômeno inédito, pela sua magnitude e por sua concentração em poucos meses. Olhando um pouco para frente, é bem elevada a probabilidade da situação precária se transformar em desemprego para efeito das pesquisas.

A proteção social promovida pelo auxílio emergencial de R$ 600, proposto pelo movimento sindical, sociedade civil organizada, partidos políticos de oposição e aprovado pelo Congresso Nacional, criou uma rede de proteção para mais de 65 milhões de trabalhadores da economia informal, que não tinham nenhuma proteção contra a desocupação involuntária. A política de proteção dos salários, suspensão ou redução da jornada de trabalho, por sua vez, protegeu outros 15 milhões de trabalhadores. Mas essas políticas acabam em dezembro de 2020.

O IBGE estima em 27 milhões de pessoas na inatividade que gostariam de trabalhar, destas, 17 milhões não o fazem em razão do isolamento ou porque acham, com razão, que não encontrariam uma ocupação na localidade onde moram. Afinal, a conjuntura e a falta de ação governamental indicam que continuarão a falir e fechar milhares de micro, pequenas e médias empresas. E os números podem piorar, pois nas últimas semanas grandes empresas começaram a anunciar novos planos de reestruturação, sinônimo elegante para demissões.

O futuro anuncia que o aumento do desemprego vem a galope. Em parte, porque ao voltar ao mercado, o trabalhador afastado irá encontrar mais postos de trabalho fechados. Mas ele será obrigado a continuar procurando, pois o auxílio emergencial, primeiro será reduzido, e depois, no final do ano, deixará de existir.

Diante deste quadro, os conselheiros das centrais sindicais no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) tomaram a iniciativa de propor a extensão do seguro-desemprego, em duas parcelas e em caráter excepcional para os trabalhadores demitidos no período que vai da pandemia até o final deste ano, ou seja, durante o Estado de Calamidade Pública. O Codefat, que é composto ainda por conselheiros representantes dos empresários e do governo, deverá deliberar sobre essa proposta.

Estimativas do Dieese, órgão técnico de assessoria à bancada dos trabalhadores no Conselho, indicam que a medida atenderia cerca de 6 milhões de trabalhadores, com o custo de 16 bilhões de reais, considerando uma média de 1,27 salário mínimo por parcela.