Desespero e esperança: um brasileiro no exterior

Por Carlos Roberto Winckler|2021-06-13T22:57:32-03:0008/06/21|Artigo, Crônica, Política|

Não há certeza da verdadeira autoria. Consta apenas uma vaga assinatura: Um Patriota. Há quem diga que a autoria é do médico gaúcho, detido no Cairo e recém-liberado pelas autoridades egípcias. Pesa sobre seus ombros a acusação de assédio a uma vendedora no Cairo. Há algumas coincidências, mas nada que se possa afirmar, com certeza, a autoria. Pode ser apenas mera aleivosia vazada há alguns dias nas redes sociais. As preces, aparentemente, foram atendidas. Houve alguma ameaça de boicote à importação de carnes brasileiras segundo o ritual muçulmano? A presteza das autoridades brasileiras foi admirável. Só não se sabe quem pagou a multa e os custos do retorno. Um segredo de estado, sem dúvida.

De qualquer forma, a carta revela muito do espírito da época em que se vive.

A Carta

Que humilhação! Recolhido a um estabelecimento público nesse país de famélicos, só podia dar nisso. País sem humor, povo incapaz de entender uma brincadeira sem maiores consequências. Coisa da ditadura do politicamente correto que viceja no mundo, como bem disseram o general Villas Bôas, o Olavão e nosso querido e respeitado presidente.
Um comentário leve sobre a consistência e comprimento de papiros, feito a uma vendedora, nem tão bonita, que mal sabia balbuciar algo em inglês, criou toda essa balbúrdia. Tanta balbúrdia, que me senti um pouquinho culpado. Nem desculpas foram aceitas. Gente mal educada. Como bem disse minha amada esposa: ´as pessoas veem mal em tudo´.
De que vale o saber acumulado na construção das pirâmides? Se bem que agora desconfio de que foram construídas por extraterrestres, como bem apontou o livro ´Eram os deuses astronautas?´.
E como é deplorável a comida! Como respeito culturas alheias, fiz um curso sobre a alimentação egípcia contemporânea. O prato de resistência é o fool, um ensopado de grãos de fava, pasta de gergelim e suco de limão. Deveria ter desconfiado do chef gaúcho todo pilchado, a falar das façanhas gaúchas, repetidas pelo senador gaúcho Heinze na CPI, o que muito nos orgulha. Um enganador, o chef. Se retornar, pedirei indenização.
Enquanto engolia a gororoba, um guarda rosnou em um inglês de quinta, que corro risco de condenação a cem chibatadas. No traseiro. Como bom cristão deveria estar ciente dos riscos. Razão tem o Olavão.
Nutrológo e cirurgião plástico, como ficará meu corpo esculpido como prova de competência profissional? Eu, um coach internacional! Como expor minha decaída derrière à minha consorte? Não suportarei seu olhar compadecido às carnes flácidas e músculos estirados. Não há papiro rígido que resista. Como reagirão os companheiros de academia ao ver os indeléveis vergões avermelhados a adornar minhas nádegas?
Há, talvez, uma luz no fim do túnel. Minha advogada alertou que as chibatadas foram abolidas ano passado. Tudo pode resultar em uma multa ou em breve agonia em algum fétido calabouço. Me vem à memória o filme “O expresso da meia-noite”, no qual um infeliz estudante estadunidense padece nas mãos de turcos. São todos iguais, uns bárbaros!
Que Bolsonaro alivie minha dor. Sim. Quando deputado federal, disse que eu era irmão de farda e fé e que juntos salvaríamos o Brasil. Já solicitei à embaixada alguns kits de cloroquina, pois defendo o tratamento precoce, como bem sabem seguidores, clientes e amigos. Nesse país de ditadura militar, em que não há certeza de justa aplicação da lei, corro o risco de ser infectado pelo vírus chinês aliado à ímpia fé muçulmana. Nem os Cruzados seriam capazes de imaginar tal aliança.
E dizer que tudo começou como uma brincadeira filmada, apropriada e distorcida por feminazis, incapazes de compreender a ordem do mundo. Que o Senhor se compadeça de suas almas. Uma parente querida diz ter certeza de que a esquerda é a responsável por tudo isso daí.
Gratidão a meus seguidores do Instagram que organizaram uma corrente de orações. Um milhão em ação!
Gratidão aos motociclistas que desfilaram em São Paulo em defesa da Pátria, acompanhados pelo nosso garboso presidente, valorosamente protegido por uma guarda de mil policiais militares. Soube que pretendem organizar peregrinação ao Santuário de Aparecida pelo meu retorno. Se a Graça for alcançada, a eles dedicarei lives sobre postura física e sobrepeso, pois o volume abdominal de muitos participantes prejudica nossa imagem no exterior, tão vilipendiada e contraditória com o desejo de mostrar ímpeto e força.
Entrevistas, a produção de um livro, devidamente agenciados, sobre os horrores desses dias, estão no horizonte. Há males que vêm para o bem, como bem aprendi nos cursos do Instituto Mises.
Amor eterno à minha esposa, empreendedora de talento, ardorosa defensora de minha inocência, companheira incansável nos treinos de tiro ao alvo. Com ela passarei alguns dias a caçar javalis, já que não temos ursos como os abatidos por Olavo nos EUA. Será uma bela ocasião para aliviar o stress e renovar votos de casamento.

Na esperança de pronto Resgate,

Um Patriota”

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O artigo publicado represena a opinião do autor e não do Conselho Editorial do Terapia Política.
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