O jornalista Márcio Bueno em entrevista ao Jô Soares.

“Faíscas verbais – a genialidade na ponta da língua”. O livro do autor é uma coletânea de frases demolidoras, sarcásticas, irônicas, produzidas por celebridades no calor de uma discussão, de um debate, numa entrevista ou até numa conversa informal. Não vale preparar, só entram os improvisos, no “estalo, na bucha”. A seguir, uma pequena amostra, das mais de 500 frases de personalidades. (TP)

Em 1982, foram realizadas eleições diretas para governadores em todo o país. No Rio de Janeiro, concorreram cinco candidatos, entre eles Leonel Brizola, pelo PDT, e Miro Teixeira, pelo PMDB, partido do então governador, Chagas Freitas. Embora fosse o candidato do governador do Rio, Miro não escancarava esse fato em público, uma vez que Chagas Freitas tinha se tornado sinônimo de corrupção no Estado, da mesma forma que Paulo Maluf em São Paulo. Em um debate ao vivo, a certa altura o mediador pergunta a Brizola quais eram seus planos para a agricultura no Rio de Janeiro. Brizola começa dizendo que conhecia muito bem o assunto por ser natural do Rio Grande do Sul, um estado agrícola. E interrompe a fala para dizer:
– Aliás, creio que todos os candidatos aqui são de fora do Rio de Janeiro…
No mesmo instante, Miro Teixeira intervém:
– Todos, não, eu sou do Rio de Janeiro…
Nisso, Brizola arremata, como se tivesse jogado uma casca de banana exatamente para Miro escorregar:
– E daí, o Chagas Freitas também é.

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O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (nascido em 1960), disse numa entrevista ao humorista Jô Soares que havia sido torturado na época da ditadura militar, instaurada no Brasil em 1964. Conversando com o então deputado Arthur Virgílio Neto, do Amazonas, um repórter pergunta o que ele tinha achado da declaração de Garotinho. Resposta:
– Tortura no Garotinho? Só se foi na creche. Devem ter atrasado a mamadeira dele.

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Durante entrevista, uma repórter pergunta a Fidel Castro se era verdade que até as universitárias de Cuba estavam se prostituindo.
– De maneira alguma – responde Fidel –. O que acontece é que em Cuba até as prostitutas têm nível universitário.

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Na primeira vez em que disputa a prefeitura de São Paulo, em 1953, o principal adversário de Jânio Quadros é o professor Cardoso (em 1985, ele voltaria a concorrer a prefeito de São Paulo com outro professor Cardoso, o que mais tarde chegaria a presidente da República). O professor da década de 50 – Francisco Antônio Cardoso – costumava dizer, durante a campanha eleitoral, que “Jânio é um homem feio, magro, demagogo, mal vestido, mal barbeado, ou seja, é um personagem que nada tem a ver com a dignidade do cargo a que aspira”. Jânio, por sua vez, passou a dizer nos comícios exatamente o contrário a respeito de seu oponente: “trata-se de um homem bem apessoado, rosto bonito, dentes brancos, veste-se impecavelmente, elegante, simpático, etc.”. E concluía:
– Se estivéssemos participando de um concurso de beleza, eu garanto a vocês que retiraria a minha candidatura.

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Uma sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em maio de 2008, quase acaba em pugilato. O ministro da Justiça,Tarso Genro, defendia a demarcação de terras indígenas. O então obscuro deputado Jair Bolsonaro, militar da reserva e defensor da ditadura militar, intervém:
– O ministro veio aqui para mentir e omitir. Ele entende bem o que é terrorismo, ele que participou de grupos terroristas.
O ministro reage, elevando a temperatura:
– Quem fez ação terrorista aqui, deputado? O senhor está mentindo.
Nesse momento, o índio sateré maué Jecinaldo Barbosa, coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, joga um copo d’água nas costas do deputado e a confusão se espalha. Depois de tudo serenado, quando perguntam ao índio por que tinha jogado um copo d’água no deputado, ele explica:
– Joguei água porque não tinha flecha.

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Na época da fundação do PSDB, um repórter perguntou a opinião de Delfim Netto sobre a escolha do tucano como ave símbolo do novo partido. O ex-ministro responde na bucha:
– O problema é que o tucano tem o bico muito comprido e pesado. Para haver um certo equilíbrio, vai ter que levar muito chumbo no rabo.

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Rangel Pestana foi um dos fundadores do tradicional jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão. Um dia, ele recebeu a informação de que um dos redatores não iria trabalhar por ter quebrado o pé. E perguntou, na lata:
– Mas pelo menos hoje ele não poderia escrever com a mão?

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