Churchill x Bolsonaro. Um debate entre os dois jamais poderia ocorrer. Mas é possível imaginar como o primeiro-ministro britânico trataria o representante brasileiro com base num episódio ocorrido na Câmara dos Comuns. Um deputado pergunta a Churchill se ele, como primeiro-ministro, tinha conhecimento da grande preocupação da população em relação ao conflito em que estava envolvida a Coreia. Churchill não perdoa:

– Eu tenho conhecimento é da profunda preocupação que V. Ex.ª manifesta em relação a assuntos que estão além da sua capacidade de compreender.

Depois de condenar durante muito tempo as negociações das emendas ao Orçamento com os parlamentares, o governo atual, sem fazer autocrítica, rendeu-se ao mecanismo. As denúncias em relação às emendas parlamentares são mais antigas do que se pensa. Há quase 100 anos, na reforma da Constituição de 1925, um dos objetivos era liquidar a chamada “cauda do Orçamento”, esquema em que parte dos parlamentares era acusada de deitar e rolar na maracutaia. Algum tempo depois da eliminação da cauda, em uma reunião da Comissão de Finanças discutia-se um desses favores, quando um parlamentar mostrou-se surpreso:

– De nada serviu, então, a supressão da cauda do Orçamento!

O senador Lauro Müller foi rápido:

– Perfeitamente. A cauda foi-se, mas o macaco ficou!

Conta-se que um dia Alzira Vargas, filha de Getúlio, depois de participar de algumas reuniões com o pai, decide questioná-lo:

– O senhor ouviu o pessoal da UDN e disse que eles tinham razão. Depois, ouviu o pessoal do PTB, que defendeu posições absolutamente contrárias, e disse também que eles tinham razão…

Reação de Getúlio:

– É… tu tens razão.

Em 1968, o jornalista José Hamilton Ribeiro viajou para o Vietnã, para fazer a cobertura da guerra para a Realidade, revista brasileira mais influente do final da década de 1960. Numa das vezes em que acompanhava o deslocamento de tropas norte-americanas, pisou numa mina, que explodiu, arrancando-lhe metade da perna esquerda. Alguns anos mais tarde, participava de um programa de auditório em uma emissora de TV do Rio de Janeiro, quando um jornalista – inconveniente, para dizer o mínimo – perguntou a ele se era muito difícil ser repórter com uma perna só. Resposta de Hamilton, na bucha:

– Ser repórter com uma perna só é mais difícil do que com duas. Mas é mais fácil do que com quatro.

Essas pílulas são uma pequena amostra do que está registrado no livro “Faíscas verbais – A genialidade na ponta da língua”, de minha autoria. São mais de 500 frases criadas de improviso, na lata, na bucha por jornalistas, esportistas, intelectuais, políticos, cientistas, etc.