Pintou um clima

O termo pedofilia é definido pela Organização Mundial da Saúde como a ocorrência de sentimentos e práticas sexuais entre um indivíduo maior de 16 anos com uma criança na pré-puberdade. A sexologia encara a pedofilia como uma perversão sexual.
Concordo com Danilo Antônio Baltieri, Mestre e Doutor em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, quando refere que a pedofilia não é uma doença, mas sim uma parafilia, um distúrbio psíquico que se caracteriza pela obsessão por práticas sexuais não aceitas pela sociedade, como o exibicionismo e o sadomasoquismo. É caracterizada por fantasias, atividades, comportamentos ou práticas sexuais intensas e recorrentes, envolvendo crianças ou adolescentes menores de 14 anos de idade.
Isso significa que o portador de pedofilia é sexualmente atraído exclusivamente, ou quase exclusivamente, por crianças ou indivíduos púberes.
O pedófilo, geralmente, apresenta uma sexualidade pouco desenvolvida e teme a relação com um parceiro em condições de igualdade psicológica. Quer dominar, mas, como é sexualmente inseguro, escolhe como parceiro uma pessoa vulnerável.
A pedofilia é um transtorno psiquiátrico de difícil diagnóstico e tratamento.
Apesar disso, uma parcela significativa daqueles que padecem dessa parafilia e a aceita ou não consegue controlá-la, responde adequadamente ao tratamento médico e psicológico assertivamente instalado. O indivíduo com pedofilia que aborda sexualmente uma criança deve ser avaliado por especialistas em sexologia e encaminhado para tratamento adequado. Da mesma forma, o portador de pedofilia que nunca se relacionou concretamente com uma criança deve reconhecer as manifestações do transtorno e procurar auxílio médico especializado.
Baltieri ressalta que, frequentemente, o indivíduo que tem pedofilia não sofre comprometimento intelectivo e conhece assim as repercussões negativas de suas ações nefastas. Contudo, também frequentemente, o portador de pedofilia pode ter comprometimento da sua capacidade volitiva, ou seja, da sua capacidade de controlar seus impulsos, desejos e comportamentos sexuais dirigidos às crianças. Algum grau de prejuízo em sua capacidade de culpa poderá ser encontrado entre padecentes desse grave transtorno psiquiátrico. Dessa forma, a pessoa com esse transtorno que cometeu crime sexual deve receber tratamento adequado, ter seu risco de reincidência sempre avaliado e suas necessidades criminosas manejadas por profissionais qualificados na matéria.
Ofensas sexuais contra crianças são sempre condenáveis e provocadoras de grande comoção pública. De qualquer forma, o manejo legal daqueles que cometeram tais ofensas deve ser corretamente fundamentado e cientificamente embasado, a fim de promover justiça.
Nem todo molestador de crianças é pedófilo e, da mesma forma, nem todo portador de pedofilia é molestador de crianças. Por exemplo, alguns indivíduos que sexualmente abusam de crianças podem, oportunisticamente, selecionar menores para o ato sexual, simplesmente porque estes estão disponíveis em um determinado momento e uma determinada situação. Por outro lado, o indivíduo com diagnóstico médico de pedofilia pode manifestar fantasias sexuais intensas e recorrentes envolvendo crianças e púberes, mas jamais concretizar estas fantasias.
Embora muitos pedófilos não concretizem suas fantasias desviadas, alguns fatores psicossociais têm sido apontados como facilitadores da sua expressão, tais como doenças afetivas (depressão), estresse psicológico intenso e abuso de substâncias psicoativas como o álcool. Quando quaisquer desses fatores ocorrem em uma situação em que o individuo com pedofilia tem acesso às crianças, o comportamento pedofílico torna-se iminente.
Atração por garotinhas pode ser instintiva, em determinados indivíduos, pois, em diversas culturas, no passado e no presente, a idade considerada desejável para a reprodução era, na menina, entre os treze e dezoito anos. O advento dos valores morais do Iluminismo, reconhecendo a fragilidade das meninas nesta idade e o fator de coerção física e/ou moral envolvidos numa relação deste tipo, trouxe a proibição desse relacionamento entre as pessoas psiquicamente sadias e civilizadas.
Muitos homens ainda sentem esta atração, a imensa maioria domina esse impulso, como domina sua gula, sua violência, sua inveja e seu egoísmo.
Alguns não têm essa força moral e uns poucos, levados pela masculinidade “tóxica” chegam a orgulhar-se e vangloriar-se dela.
Preocupa-me ouvir homens contarem despretensiosamente a atração sexual que haviam estabelecido entre eles e garotas adolescentes.
Como psicóloga e sexóloga, entendo que esses homens, que ao sentirem que ficam excitados no contato com crianças consideram absolutamente normal sua reação, precisam, urgentemente, buscar ajuda…
Como mãe e avó, não sou tão complacente…

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone.
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