Grifo entrevista Valéria Barcellos (continuação…)

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LÚ – Em que momento uma pessoa cis precisa provar para um médico que ela é uma pessoa cis?

VALÉRIA – A cisgeneralidade nem imagina que esse tipo de pergunta é feita pra gente todos os dias.

SCHUSTER – Vamos falar de tua carreira. Tu tens uma gravação agora, ao meio dia. Como estás te sentido? Foi uma batalha muito grande, tiveste que pedir dinheiro emprestado pra pegar o ônibus pra fazer um teste num karaokê… Mas as coisas agora estão melhores, tu já tens vídeos gravados. Como está tua carreira profissional?

VALÉRIA – Marco, me lembraste agora que ainda não paguei o empréstimo da passagem de ônibus! Eu lembro exatamente desse dia em que ele me emprestou o dinheiro. Ele disse assim: “Não te preocupa. Depois tu me paga em euro”. Eu realmente dei um upgrade muito bonito em minha carreira. Eu saí do interior do Rio Grande do Sul, de uma cidade extremamente racista, machista, misógina e todo esse bolo aí, e consegui fazer as coisas que eu faço, ou meus fazeres artísticos tomando uma proporção muito maior. Eu tenho vontade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Eu tenho muita urgência em viver. E como eu sei que estou com seis anos de bônus nesta vida – a expectativa de vida de uma mulher trans é de 35 anos e eu estou com 41 – e como estou com bônus, eu estou com uma urgência muito maior. Os meus fazeres artísticos têm sido muito satisfatórios, e embora eu algumas vezes reclame, eu tenho conseguido viver de arte nesses 20 anos de profissionalização, mas eu tenho mais de 30, porque eu canto desde os seis, sete. E nesses 20 eu vejo uma curva ascendente. Embora o mercado não colabore muito, em 2015 isso começou a abrir, quando criaram o MPB Trans, que é o movimento da música popular feita por pessoas trans. Eu vejo um momento muito legal em minha carreira artística. Eu consegui fazer minhas coisas. Eu consigo criar minhas próprias narrativas. Se eu não me vejo num lugar, eu vou lá e crio. Se eu não me vejo numa peça, eu quero uma peça que eu faça como atriz.

TARSO – Tu já comes e bebes da tua arte?

VALÉRIA – Exatamente. Vivo, respiro, faço, vivo dela. E dissemino pra outras, o que pra mim é muito legal.

TARSO – Tu compões também.

VALÉRIA – Eu aprendi a compor. Eu escrevo, escrevo muito, sou uma pessoa que desconta na caneta muitas de minhas frustrações, minhas vontades de dizer muita coisa.

TARSO – Então, música, teatro, livro…

VALÉRIA – Eu estou finalizando uma peça que quero que aconteça no final de 2022 e mais algumas que quero finalizar que tratam de toda essa temática, uma outra que chama “Enzo e Valentina”, que fala de uma relação de uma pessoa com deficiência com uma pessoa trans, mais uma que ainda não tem nome, que vai tratar desse processo de câncer e os depoimentos que eu colhi na sala de quimioterapia e um disco que está sendo finalizado, chama-se “Carnaval”, com a produção da Felipe Catto e do Davi Catto, com músicas da Zélia Duncan, com participações especialíssimas que ainda não posso falar. E tem mais um livro, que estou finalizando, de poesias. Fui num evento de poesia e vi ali os caras falando “nossa, ela é linda, ela é maravilhosa”. E eu e [a escritora] Clara Averbuck ficamos muito p… da vida, porque os caras falavam da mulher como objeto, e cor, e olho. A gente é muito mais que isso. Daí eu fiz um livro em que homenageio os homens, falando do corpo deles, falando de como são deliciosos. Esse livro tem a pretensão de ser um livro diferente de todos porque vai ter narração, vai ter video arte e um QR Code e vai ter ali um modo de acessar em outras maneiras. Então, vídeo, peça, audiovisual, estou fazendo uns vídeos por aí. O que aparecer eu estou fazendo.

TARSO – Com a pandemia tuas apresentações caíram, não é? O teu mercado está onde?

VALÉRIA – O meu mercado está na música. Mas as apresentações caíram. Antes da pandemia eu estava num crescente gigantesco. Estava com uma turnê pronta pra Portugal – um show chamado “Anú”, que fala sobre as questões indígenas e negritude. Minhas agendas foram caindo, caindo, o último show que caiu foi o de Portugal. Eu tinha viajado bastante, entre Rio de Janeiro e São Paulo, em especial no Galeria Café, que é uma casa que me recebeu, onde eu tive a oportunidade de me encontrar com muitas pessoas legais, Nega Lú, Tony Garrido, Cláudio Lins, que é o dono do bar. Eu tenho feito um circuito muito bonito. A arte feita por pessoas trans tem tomado uma proporção melhor porque as pessoas têm Google. É por isso que nosso fazer artístico está tão disseminado. Onde estão me chamando eu estou indo. Mas estou sediado em Porto Alegre, por enquanto.

SCHUSTER – E estás sendo mais aceita, não? Tu sempre te apresentas como “trans, preta…” eu não decorei toda a frase.

VALÉRIA – Ahahaha! Não precisa decorar, Marco. Basta entender que já está ótimo. Eu gosto de me apresentar como uma pessoa trans e preta. Uma pergunta que as pessoas me fazem é “nossa! Tu ainda precisas falar sobre isso?” Eu respondo com outras pergunta: “E por que não pode falar?”. Na nossa existência ainda é necessária essa demarcação de território. Ora, se ainda com todo esse avanço eu ainda tenho que explicar pras pessoas cisgêneras o que é uma pessoa cisgênera!… Eu dei uma palestra numa empresa em que perguntei à plateia: “Quantas pessoas cisgêneras há na empresa?” Eles não responderam!

SCHUSTER – É menos difícil conquistar espaço se apresentando assim agora do que há cinco anos, dez anos?

VALÉRIA – Sim, muito mais fácil. Se eu for procurar as minhas referências de pessoas trans – eu de 1979 -, não é nada disso que eu sou hoje. “Diriam: ah, tinha a Rogéria”. Ora, a Rogéria se denominava O travesti da família brasileira. Que travesti tem família? Mas qual de nós tem ou teve uma relação amigável com a família? Não existe isso. O movimento MPB Trans surgiu em 2015. Há seis anos era difícil ainda. A gente teve que criar alguma coisa para que a gente pudesse se categorizar em alguma coisa, para que as pessoas prestassem atenção e vissem que a gente faz algo que tem uma qualidade. A gente faz no movimento de MPB Trans, movimento artístico feito por pessoas trans, uma narrativa sempre de denúncia: “sou isso, sou aquilo, estou passando por isso”. A gente não pode fazer música de passarinho e de florzinha. Não dá. Mas é um movimento tal e qual a bossa nova. A gente tá refletido a nossa época.

SHUSTER – O preconceito tá mais arraigado ou mais explícito? A impressão que eu tenho é que  o preconceito tá maior, inclusive por parte do governo. Foi o preconceito que aumentou, ou simplesmente a gente tá percebendo mais agora?

VALÉRIA – Simplesmente estamos percebendo mais isso. Porque o conservadorismo, esse conservadorismo podre, sempre esteve aqui. Eu penso o conservadorismo como uma conserva de rabanete. São frutos espremidos dentro de um vidro, com um mesmo líquido e é disso que eles se alimentam. Tal qual os conservadores. Eles estão ali dentro de uma bolha. E quanto tu abres, tem um cheiro horroroso. Eu acho que abriram um vidro de conservadorismo agora.

Eu penso que isso ainda tá por aqui porque a gente tá olhando para o lado errado das coisas. A gente olha para o racismo e não olha para o racista. Passa a mão na cabeça. Olha para a transfobia e não olha para o transfóbico. Por que é muito difícil a gente tolher o pai da gente, o nosso irmão, a nossa mãe. “Mãe, isso é racismo, mãe, isso é transfobia, mão, isso é homofobia”. É muito difícil a gente falar isso a essas pessoas, porque a gente etariza o preconceito. Diz que ela é assim porque ela é muito velha, ela não entende. A gente tem olhado muito para o lado errado. Precisa olhar para essa pessoa. Essa situação só existe por causa dessa pessoa. O racismo é problema de branco, não é problema de preto. Vocês é que têm aí um problema a resolver. Vocês é que criaram isso. A transfobia também. A gente só queria viver aqui de boa como todo mundo, pagar os nossos impostos, botar a roupinha que a gente gosta. A gente tem que entender melhor essas questões na prática do dia a dia.

Mas realmente a gente percebe de cinco, seis anos pra agora uma curva gigantesca [de manifestação de preconceito]. Mas sempre estiveram aqui. Do nosso lado. Às vezes somos até nós replicando alguns preconceitos e a gente nem percebe.

LÚ – Tu escreveste um artigo para a Psicologia da UFRGS sobre a política marginal. Fale mais sobre isso.

VALÉRIA – Eu fiquei muito impressionada de ter sido convidada para estar ali, junto com doutores.  E gostei da postura acadêmica de fazer isso, por estar ali, junto, falando, não sendo narrada por alguém. Me chamam muito pra dar palestras na universidade, a UFRGS me chama muito pra falar sobre isso. Esse capítulo que eu escrevi fala sobre a arte ser transgressora ou agressora de pessoas trans. Acham que a arte feita por pessoas trans é muito transgressora. E na verdade a gente só quer fazer a nossa musiquinha. E enquanto arte trans agressora, agressora de pessoas trans. A gente vê muito transfake, a gente vê creepface, que é quando a gente vê pessoas com deficiência serem interpretadas por quem não é PCD. E se vê muito transfake na novela. “Ah, mas a novela das nove tá falando desse assunto”.  Mas não é uma pessoa trans! Tem um homem gay sis interpretando uma pessoa trans, que não é isso. Se a gente não tem a oportunidade de expor as nossas próprias narrativas por nós mesmos, quando é que irão nos dar essa chance? Esse meu capítulo fala sobre isso. Dá uma explicação sobre corpos parlamentares – corpos que falam por si, um corpo que chega num lugar e fala. As pessoas veem e pensam “o que ela está fazendo aqui?”. Veio transar com alguém? Ela é faxineira?” é a leitura que as pessoas fazem do meu corpo. É a delimitação física dizendo para as pessoas alguma coisa.

A necessidade da Universidade saber das coisas passa por uma necessidade da nossa invisibilidade, nos invisibiliza, nos ouve como uma voz que vem do além, como uma psicografia, mas não nos coloca lá dentro. Pelo contrário, nos expulsa de lá. E essa premissa serve para todas as esferas da sociedade. A gente quer estar nos lugares pra que vocês nos ouçam, pra que vocês nos conheçam. Pra que entendam que sexualidade e gênero não é a mesma coisa. Por maiores que sejam os conceitos, aquilo que a gente fala aqui, pela própria boca, cara a cara, ….. [caiu a internet da Valéria].

LÚ – A Valéria já se apresentou com cantoras internacionais.

VALÉRIA – Pois é, dessas coisas que acontecem na vida da gente. Eu abri o show da cantora Katy Perry [cantora pop, compositora e atriz americana] aqui em Porto Alegre. Eu conheço as músicas dela, mas não sou uma fã desesperada. Esse convite veio de um amigo que estava na produção, aqui. Um tempo depois ele me liga, dizendo que eu fui aprovada. Até achei que era trote. Eu não podia contar. Isso era em março e o show, em dezembro. E eu vendo a movimentação da imprensa, enlouquecida atrás do nome que iria abrir o show em Porto Alegre, e eu não podia falar nada. E foi uma das coisas mais lindas do mundo. Um público incrível. Eu cantei música brasileira, cantei meu repertório autoral também. Foi uma aposta arriscada minha que deu muito certo. Depois do show a Kate Perry quis me conhecer, me chamou pra conversar, pra tomar um drinque. Eu agradeci bastante, ela agradeceu bastante por eu ter aberto o show dela, foi muito gentil. Ela é muito linda, muito acessível à comunidade LGBTI+. Já com a cantora Zaz [Isabelle Geffroy], eu tenho uma amiga francesa, Marie, que é cantora da Zaz. Ela morava aqui [Porto Alegre] numa comunidade, a comunidade do Arvoredo. Ia ter um jantar e me chamaram meio às pressas, “vamos fazer um show”. Era a hora do meu show e eles chegaram. Era a Zaz! Eu fiquei muito chocada. Cantei, fiz a minha parte. Conversaram, ela cantou um pouquinho ali com a gente, beberam uma coisa. No outro dia, iam entregar um prêmio ao meu grande amigo Jean Wyllys. No meio da cerimônia o telefone toca, era a Isabelle, convidando pra fazer uma canção com ela! Ne me quitte pas, que eu cantara no dia anterior. Só que pra ela o Ne me quitte pas é como Meu Brasil brasileiro… Ahahah. Ela queria ensaiar. Terminou a cerimônia e eu fui para o auditório Araújo Vianna. Foi também uma das maiores experiências de minha vida. Lotação esgotada. Ela, com um amor pelo Brasil! Ela me apresentou como “uma estrela da música brasileira”. Foi lindo demais poder fazer tudo isso.

SCHUSTER – Essa amizade com o Jean Wyllys envolve política também? Politicamente, como tu te colocas no país e no mundo?

VALÉRIA – A amizade com o Jean vem do Galeria Café. Eu o conheci lá. Não tinha nenhum cunho político, apesar de defendermos as mesmas coisas. Eu sou uma pessoa claramente de esquerda. O Jean, fora o ser político, é uma pessoa que me ajuda muito, me apresenta pessoas que me possibilitam muitas coisas. Isso é muito importante para pessoas trans. É muito precioso pra nós a gente poder fazer contatos, para que as pessoas nos conheçam. É isso: as pessoas têm um distanciamento de nossa vivência tão gigantesco, há um hiato entre o que as pessoas pensam de nós e o que a gente é, que só vai ser possível ser desfeito com a convivência, com a proximidade, com a escuta. Nós, pessoas trans, estamos no limbo social. A gente precisa ainda se entender como pessoa. Essa minha consciência política, esse meu despertar, muito disso vem dessa minha amizade com o Jean. Ele me fez entender que a minha existência é política, que o meu corpo é político. Ele me fez entender que se eu não falar sobre isso, alguém vai fazer e não vai ser por mim. Precisamos perceber e depois fazer alguma coisa, precisamos falar de política, precisamos falar sobre tudo o que nos atinge. Através dele também fui convidada para muitos eventos em Brasília, que me fizeram entender como funcionam as coisas lá. Mas se passou pela cabeça de vocês, nem pensem que eu almejo algum cargo político. Mas sou uma pessoa que gosta de reclamar, que gosta de saber. Eu participo de muitos fóruns LGBT em que o Jean normalmente está, por ser um homem assumidamente gay. Fóruns importantíssimos que nos trouxeram, por exemplo, a retirada do CID [desqualificação do homossexualismo como doença], a facilitação da retificação de nomes [a oficialização do nome social]. Isso veio da nossa luta política. De entender e nos aproximarmos de certas figuras públicas – e é muito importante a gente ver e entender essas figuras – que só se aproximam de nós no mês de junho [mês da visibilidade gay] ou mês de janeiro [da visibilidade trans]. Me fez também tirar esse ranço de pensar que é obrigação do outro – “ah, eu não vou falar de política, já tem quem fale”. Não é assim. A gente precisa se posicionar.

SCHUSTER – Tu já estás passando essa visão, tu já estás ampliando a visão política, tem mais gente discutindo política entre os trans?

VALÉRIA – É mais do que necessário. Tudo o que está acontecendo aqui é porque a gente não deu bola, deixou que outros fizessem. Porque a gente não ouviu. Tudo o que está acontecendo agora, essa manipulação não vem de agora. Ela vem de muito tempo. A gente tá agora numa discussão muito ferrenha da não binaridade, sobre linguagem neutra. Eu ainda tenho uma dificuldade com a linguagem neutra, mas acredito muito, respeito muito, ela já é adotada em muitos lugares do mundo. Mas ela não é uma imposição. É uma coisa que vem das ruas e vai ser trazido para o dia a dia de forma natural. “Você” é uma contração popular de “vossa mercê”, que depois ficou “vosmecê”, depois ficou “você”, através de manifestações populares. Não só esta, mas muitas das palavras que a gente usa.

Nós vimos agora uma grande polêmica. Que o filho do Super Homem é homossexual. Gente, o Super Homem nem existe, nem é real, é um quadrinho! Está cada dia mais difícil! Isso parte do discurso político, sim. A gente precisa entender quem é que está pondo lenha nessa fogueira, que inflama essas pessoas que vão contra tudo e contra todos. Precisamos falar de política, sim. Precisamos entender. A gente tá pagando essas pessoas. E, figurativamente, estamos pagando um alto preço, por não entender e não conversar sobre isso.

SCHUSTER – Falar de política e arte.

VALÉRIA – Falar de politica e arte, as duas coisas ao mesmo tempo, se possível.

SCHUSTER – Falar e fazer.

VALÉRIA – Eu estava conversando com Elisa [Elisa Lucinda Campos Gomes, poeta, jornalista, escritora, cantora e atriz ] na casa dela – ela faz jantares maravilhosos. A gente sai de lá saciados fisicamente e mentalmente. A noção de corpo parlamentar foi a Elisa quem me falou: “Nós, mulheres pretas, somos um corpo parlamentar. Imagina tu, que és mulher trans preta! Um corpo que fala muito. Eu perguntei: “O que é isso que tu tá dizendo? Vamos falar disso?”. “Sim, um corpo parlamentar, um corpo que fala por si”. A gente precisa que as pessoas leiam de maneira real, que parem de procurar resumos no Google sobre nossa existência. Nenhuma ferramenta será melhor que a convivência com a gente. Não é perguntar “Valéria, como é que tu transa?”, “Valéria, como é que tu escondes o pinto?”. Não é isso. É entender nossa sobrevivência. E que não é igual à tua. Não conhecem o site da Antra – Associação Nacional de Travestis e Homossexuais. Se tu me deres a oportunidade de conviver contigo, uma oportunidade de trabalho, de convivência e de aproximação, talvez tu aprendas, na prática, tudo isso que tu estás querendo saber de mim. E isso só vai acontecer quando a sociedade, enquanto ser político, nos admitir como cidadãs. Precisamos recuperar para as pessoas trans, as pessoas pretas, a condição de cidadãs, pra que a gente consiga conviver… tá muito difícil conviver com qualquer pessoa, mas que a gente consiga, pelo menos, existir. A gente não consegue ser. A gente só está, mas não é.

Eu fico pensando muito sobre nosso papel, como disseminadores de arte e política, de arte e notícia. A gente tem muita coisa pra saber. A nossa existência é essa. A gente não vive sozinha no mundo. Temos que saber de tudo. Mesmo que em pequenas partes.

Eu gosto de terminar com algumas perguntas

  • Quantas pessoas trans vocês conhecem?
  • Com quantas vocês convivem?
  • Vocês foram à casa de quantas delas?
  • Quantas foram na casa de vocês?
  • Com quantas já passaram as festas de fim de ano?
  • Com quantas pessoas trans você riu?
  • De quantas você riu?
  • Quantas pessoas trans já fora alvo do teu afeto?
  • E quantas já foram alvo de tua raiva?
  • Por quantas pessoas trans você já teve desejo e teve vergonha disso?
  • Quantas dessas pessoas trans você já teve orgulho de apresentar como amiga ou amigo?

Revejam, em suas respostas, o conceito de inclusão, o conceito de vivência e de sobrevivência. E comparem, a partir de agora, com suas relações com pessoas não trans. Depois disso eu quero que vocês pensem na frase que é subtítulo do meu livro: vocês me conhecem porque têm medo, ou têm medo porque me conhecem?  (A entrevista está publicada na íntegra no Grifo nº 14, de nov/2021).

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial.

NR: Entrevistadores: Caco Bisol, Lú Vieira, Marco Antonio Schuster, Rodrigo Schuster e Paulo de Tarso Riccordi.

Ilustração: Mihai Cauli

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